sábado, 5 de dezembro de 2015

Jardins na arquitectura urbana do Gharb



Tal como acontece nas outras regiões do Al-Andalus, a arquitectura civil do Gharb apresenta espaços com áreas interiores abertas de carácter multi funcional com vegetação e passeios, muitas vezes são acompanhados de agua ou fontes por onde circula a agua em pequenos canais, são comummente chamados pátios com jardim ou simplesmente jardins.
Estes espaços ate agora são encontrados em edificações tardias no Gharb, nomeadamente Almoravidas e Almoadas, sendo os exemplos mais representativos em Mértola e Silves embora tinham sido identificados alguns casos de pátios com jardins em Lisboa.
Os pátios, espaços abertos interiores, são conhecidos nas edificações Fenícias ou ou de orientação oriental desde o primeiro milénio AC no sul de Portugal, constituindo assim uma tradição mediterrânea que se renovaria com a conquista Romana.
Alguns destes espaços transformaram se em requintados jardins com vegetação variada, lagos com jogos de repuxos e com ricos revestimentos de estuque decorado com mármore ou mosaico e não era raro encontrar nestes espaços esculturas de divindades relacionadas com a natureza. Trtavam se de locais agradáveis e de prazer cuja perfeição e beleza provocaram a contemplação e ajudaram os homens  ao sagrado.
Os jardins Islâmicos no espaço central da habitação que é o pátio com árvores e agua constituíram igualmente construções ideais possuindo rica simbologia e segundo alguns autores seria uma aproximação ao conceito Coranico do paraíso.
Os desenhos das plantas dos jardins mostram variabilidade embora correspondam sempre a espaços poligonais de quatro lados podendo ser rectangulares , quadrados ou mesmo trapezoidais , dependendo da morfologia das edificações em que se encontram.  .
Tal como acontece em relação ás plantas dos pátios com jardim, também traduz a orientação das casas que os contêm.
Embora alguns dos jardins conhecidos sejam de orientação nascente-poente com forte conotação sócio-religiosa no Islão, existem alguns que fogem a essa pratica como é o caso de duas casas na medina de Mértola, orientadas a nordeste-sudeste.
O especial significado  no contexto habitacional urbano do Gharb conduziu quase sempre a que a sua contrição fosse cuidada, como nela fossem aplicados materiais raros e dispendiosos.
Os canteiros dos jardins eram definidos por boa alvenaria de pedra ligada por uma massa de cal e areia, os passeios eram frequentemente lageados constituindo frequente o único espaço na habitação com tais características.O piso dos jardins era levemente inclinado para o centro do pátio afim de drenarem as aguas pluviais através de ralos.
Os patios com jardins do Gharb eram espaços fechados, delimitados e protegidos pelas paredes dos compartimentos que os rodeavam e constituíam também lugares de intimidade onde se podia gozar de sombra, humidade e frescura pela agua e plantas que neles existiam ajudando assim a amenizar os verões escaldante e prolongadas estiagens.
Plantas aromáticas e frutos amadurecidos exalavam odores que perfumavam o jardins e as divisões mais próximas da casa sendo algumas usadas na condimentação dos alimentos.
Os jardins residenciais tiveram assim a função de hortos, fornecendo não só plantas de uso culinário mas também especiarias e de carácter medicinal, algumas delas seriam usadas em infusões tão apreciadas em contexto islâmico.
A flora dos jardins eram essencialmente plantas domesticadas sendo algumas silvestres de pequeno ou médio porte e a sua ornamentação seria cuidada tomando assim parte integrante da habitação.
A gramática fitomórfica teve importância incontornável na decoração vascular de todos os periodos relacionados com a presença islâmica no Gharb através da pintura, incisão, estampilhagem e da coroplastia ou associados duas ou mais técnicas como se fez sentir na ornamentação de carácter simbólico de artefactos e na arquitectura.

Adaptação de texto de Mário Varela Gomes

Foto Google