quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Alcáçova de Mértola - O bairro Almoada



Alcáçova de Mértola - O bairro Almoada
Mértola foi uma cidade de apogeu curto que atingiu notoriedade durante o período em que Beja mostrava já alguns sinais de declínio.
Foi durante a segunda metade do século XII que se assistiu a uma renovação da mesquita e à construção do bairro Islâmico.


O bairro Almoada
As casas do bairro estiveram durante séculos sepultadas antes das intervenções arqueológicas as resgatarem ao esquecimento, Foi um bairro com uma vida curta que nos seus finais deu especial importância à sua parte mais a norte.
Este bairro é uma obra notável de planeamento, com um traçado de ruas e a concepção de sistemas de saneamento que nada têm a ver com qualquer obra ao acaso.
A rede viária organizava-se seguindo um esquema definido entre linhas perpendiculares entre si são ainda hoje , depois das intervenções arqueológicas perfeitamente definíveis. A pavimentação das ruas em terra batida ligeiramente côncava seguia o mesmo modelo quer se tratasse de uma rua principal ou de um pequeno adarve. A área habitada era estruturada por duas ruas que delimitavam a alcáçova a norte e a oeste. segundo os responsáveis pelas escavações o conjunto urbano da alcáçova foi fruto de um empreendimento feito de raiz e que passou pelo delinear do seu traçado, a marcação das ruas e a construção de sistemas de saneamento mesmo antes da construção das casas.
Os sistemas de saneamento
Um dos detalhes menos visíveis mas mais interessantes dizem respeito ao sistema de saneamento que garantia qualidade de vida aos habitantes e que foi desde sempre alvo de particulares cuidados. Cada casa tinha a sua latrina perfeitamente autónoma no seio da habitação.
Os sistemas de aguas residuais foram construídos antes ainda da construção das casas e no caso da zona do criptoportico foram abertos caneiros que permitiam a sua infiltração.


As casas
As casas eram por norma encerradas em si viradas para um pátio central e além da porta da rua, raras eram as casas que tinham abertura para o exterior, preservando assim a vida privada. As divisões das casas apontam para uma relativa especialização de funções:- Um átrio de entrada, um pátio, o salão com a sua alcova, um espaço dedicado ao trabalho e quase sempre a presença de uma latrina.
Facto a registar, nas habitações de Mértola as cozinhas estavam organizadas em duas áreas com funções definidas: uma área de armazenamento e outra área de fogo, onde se confeccionavam os alimentos. As habitações deste bairro eram de um só piso, nada a nível arqueológico aponta para um piso superior. A área das casas variava em função do espaço e do estatuto do seu proprietário, podendo variar entre 42 m2 para a mais pequena e 160m2 para a de maior dimensão. Pode se afirmar que o bairro era composto por populações autóctones, as lareiras escavadas no chão parecem, pelo seu arcaísmo e carácter local, incompatíveis com qualquer tipo de população exterior ao território. As lareiras no chão das cozinhas era uma pratica corrente nas habitações das zonas de serra. Pode se afirmar que a população do bairro era composta por uma classe de artesãos e pequenos mercadores . O persistente reaproveitamento de peças de cerâmica aponta para uma população empobrecida que não poderia adquirir com regularidade novos utensílios, arqueologicamente isso é visível através das reparações com gatos (grampos de metal) identificáveis em muitas das peças mesmo nas menos dispendiosas peças em cerâmica comum encontrada nos níveis de abandono das casas do bairro Islâmico. As casas do bairro islâmico são mais pequenas do que outras escavadas em cidades do Al-Andalus do mesmo período o que deixa antever o tamanho reduzido do espaço disponível.
Técnicas construtivas
As técnicas são sensivelmente as mesmas em todas as habitações , constituindo a característica mais marcante o emprego de técnicas familiares a toda a bacia do Mediterrâneo ( taipa e adobe) e cujo uso se prolongou ate praticamente aos dias de hoje em particular nas regiões mais arcaicas do sul de Portugal ( Alentejo e Algarve).Vários elementos de ordem técnica são de destacar. As casas não tinham fundações, as suas paredes assentavam num pequeno alicerce, erguendo- se os muros ate uma altura de 50 cms em alvenaria no interior das habitações. Os adobes raros noutras regiões são encontrados em Mértola com relativa facilidade. No contexto Islâmico esse material estava associado a uma clara marca de austeridade ou ate mesmo de uma certa pobreza.
Os pavimentos das casas são um dos elementos que mais ajudam a caracterizar a condição socio-economica dos habitantes deste bairro, em nenhuma das habitações foram identificados revestimentos luxuosos em mármore ou azulejo , não se pondo a hipótese de terem sido arrancados uma vez que são visíveis , ainda que parcialmente, os pavimentos originais.
A cobertura das casas obedecia aos princípios arquitetónicos utilizados ate há poucos anos na região. Regra geral as paredes interiores das casas eram mais baixas que as exteriores, garantindo se assim a inclinação do telhado para dentro de forma a rentabilizar e garantir o armazenamento da agua das chuvas.
Excerto de texto de :
Cuadernos de Madinat Al - Zahra
Habitat e utensilios na Mertola Almoada
Susana Gomez / Ligia Rafael / Santiago Macias

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Povoado Islâmico da Ponta do Castelo


Aljezur / Carrapateira

Seculo XII/XIII
Segundo Rosa Varela Gomes, arqueóloga responsável pela intervenção, este povoado situado num cabo que termina em arriba sobre o oceano seria provavelmente sazonal dedicado à exploração dos recursos marinhos, juntamente com a agricultura, conduzindo deste modo à produção agro-marítima, frequente na costa algarvia.




Foram identificadas restos de catorze estruturas habitacionais constituídas por uma única divisão, com planta rectangular, edificadas em taipa sobre enrocamento de pedra.
Algumas destas estruturas conservavam restos de combustão e cerâmicas partidas, assim como anzóis, pesos de rede e restos de fauna marítima e terrestre.
A pesca e o marisco constituíam não só a principal fonte alimentar dos residentes neste povoado mas o peixe, depois de salgado e seco, poderia entrar nos circuitos comerciais, servindo como moeda de troca com diferentes produtos de outras regiões do interior, nomeadamente cereais.
Foi também levantada a hipótese de este povoado ser um observatório do mar, talvez tendo em vista a baleação.





O osso de baleia encontrado, poderia ter pertencido a animal ali caçado, pois aquele mamífero marinho, hoje desaparecido do mar do Algarve, era abundante no Garb al-Andalus.
O povoado da Ponta do Castelo é o primeiro assentamento de pescadores do período muçulmano a ser investigado em Portugal.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Bocal de cisterna islâmico de Silves


Peça exposta no Museu de Arqueologia de Silves

Arenito vermelho ( Grês de Silves)




Uma leitura possível feita por Mário Varela Gomes e Rosa Varela Gomes

No ano de 1975 e após a demolição de uma moradia na zona mais alta de Silves foram encontrados alguns fragmentos desta peça esculpida em arenito vermelho( pedra de Silves).
Com a colaboração do escultor Carlos Soares os fragmentos foram colados e restaurados estando a peça actualmente exposta no Museu Municipal de Arqueologia de Silves .
Este bocal pertencia a uma cisterna de construção subterrânea de planta quadrangular medindo cerca de 1,70m de largura por 2.20m de alto, sendo a cobertura em forma de volta perfeita ou abobada de canhão.
A estrutura da cisterna era feita de argamassa de cal e areia tendo sido escavada no solo e no substrato rochoso.
Foram identificados restos de uma outra cisterna do período Almoada que se encontrava sob um pátio com jardim e passeador, sobreposto pela necrópole cristã junta á Sé que data da segunda metade do século XIII.
O bocal foi estudado pelos arqueólogos Mário Varela Gomes e Rosa varela Gomes apresentando uma forma prismática com as medida de 0.70 de diâmetro e 0.75 de largura talhada em Grés de Silves de cor vermelha escura com manchas arroxeadas e de cor ocre .
Esta peça apresenta oito faces e os motivos decorativos foram gravados em relevo.



Para ler na integra : http://www.academia.edu/1551321/Bocal_de_Poco_Islamico_de_Silves_-_Uma_leitura_possivel

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Castelo de Aljezur



O castelo de Aljezur apresenta uma planta poligonal, na cota dos sessenta e cinco metros, adaptado ao topo da colina onde foi construído, as suas muralhas atingem nalgumas partes um metro e meio de espessura e com alturas variáveis entre os três e os cinco metros. Tem uma única entrada virada a nascente defendida por uma torre maciça de planta semi - circular localizada a nordeste, no extremo oposto e orientada a sul encontra se uma outra torre igualmente maciça mas de secção rectangular.




No espaço interno encontra se um aljibe (cisterna), de planta rectangular, possivelmente de origem Almoada, com abobada de berço e um vão em arco, esta cisterna servia de reservatório de aguas pluviais e era uma estrutura vital para a sobrevivência da população no quotidiano assim como em caso de ataque prolongado. São também visíveis um conjunto de estruturas de planta rectangular ou trapezoidal dispostas perpendicularmente ao longo da muralha que correspondem a um aquartelamento tardo medieval abandonado no século dezasseis. Através de sondagens realizadas sobre estas estruturas foi possível localizar pré existências muçulmanas que correspondiam a espaços habitacionais, é ainda possível observar um importante conjunto de silos que terão surgido da necessidade de conservar os alimentos.




 As escavações arqueológicas realizadas no interior das muralhas do castelo de Aljezur nos anos noventa do século XX forneceram as primeiras informações  acerca da presença humana no cerro onde se ergue o castelo. Essas escavações deram a conhecer a utilização mais remota  que corresponde a um povoamento dos finais da Idade do Bronze datado de 3000 anos atestado por materiais cerâmicos conservados em nível pouco espesso e descontinuo assente sobre um substrato rochoso. Em 2004 sondagens arqueológicas deram a conhecer no lado poente um muro de pedra associado a materiais da Idade do Ferro cuja construção aparenta ser anterior á muralha Medieval permitindo assim colocar a hipótese de que a continuidade da ocupação no cerro do Castelo poder recuar ao período Proto-Histórico.




Do período Romano Republicano o espolio arqueológico é composto de produtos locais alem de produtos importados, provavelmente de origem Itálica, tais como cerâmicas finas de mesa de engobe negro e lustroso do tipo campaniense e de ânforas vinárias  do século segundo a primeiro antes de Cristo.
A presença humana retomou ao topo do cerro do castelo já no período Islâmico cronologicamente datado do século oitavo á primeira metade do século treze .
Do período Islâmico foram registados alicerces de alvenaria que sustentavam muros de taipa adjacentes a habitações que eram por vezes lajeadas, foram ainda descobertos silos escavados no solo que serviam de armazenamento de alimentos. A cisterna do castelo está também associada a este período.




È de tradição local que o castelo foi construído pelos árabes, tradição essa que é reforçada pelo topónimo de origem árabe Al-jazira, a ilha. Este topónimo oferece a informação de que o cerro do castelo já esteve rodeado de agua e que através da ribeira de Aljezur haveria acesso directo ao mar pelo menos até ao século dezesseis.
Durante o período Islâmico a área habitada do cerro do castelo estendia se a nascente e a sul da colina assim como em pequenas zonas dispersas de onde provem um espolio composto por cerâmicas Omiadas e artefactos em metal que estão expostos no Museu de Lagos.
Esta fortificação nos periodos Almoadas e terceiras taifas integrava um sistema defensivo da cidade de Silves, essa linha defensiva integrava os actuais concelhos de Aljezur, Lagoa. Albufeira e o sul do litoral Alentejano.

Adaptação de texto de Dra. Natércia Magalhães
Fotos - José Alberto Ribeiro


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Albufeira - Placa Apotropaica




Símbolo do Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira, foi cronologicamente atribuído ao período Islâmico (século X ) pelo arqueólogo Mário Varela Gomes. Foi descoberta pelo Padre Semedo de Azevedo no local da Porta da Alcaçova ou da Praça. Esta placa está decorada com dois motivos de plantas, colocados a par, que poderão representar pétalas ou bolbos de lotus.

As placas apotropaicas são elementos arquitectónicos pouco comuns no mundo Islâmico peninsular, sendo também conhecidas por placas profiláticas. Estas placas oferecem textos ou iconografias apresentadas de formas variáveis onde se destacam símbolos recorrentes tidos como possuidores de propriedades capazes de afastarem o mal. 


Fonte - Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Cemitério com 900 anos do Ribât da Arrifana investigado por arqueólogos

http://www.sulinformacao.pt/2014/08/cemiterio-com-900-anos-do-ribat-da-arrifana-investigado-por-arqueologos-com-fotos/

Sete das sepulturas do cemitério do Ribât da Arrifana, situado na Ponta da Atalaia, na costa de Aljezur, foram escavadas pela equipa de arqueólogos coordenada pelo casal Rosa e Mário Varela Gomes, numa curta campanha nos últimos quinze dias de Julho.







Uma dessas sepulturas do século XII pertencia a Ibrāhīm bn Sulaymān bn Hayyān, que seria talvez um dos monges deste mosteiro islâmico ou um peregrino que aí acabou por falecer no ano de 1148 A.D. Ou quem sabe, como sublinhou Rosa Varela Gomes, «será que ele pereceu durante uma batalha e foi aqui sepultado?»
Como é que os investigadores sabem o nome deste homem sepultado numas das cerca de sete dezenas de sepulturas já descobertas na necrópole situada junto ao antigo Ribât? Graças a uma estela epigrafada – ou seja uma lápide com uma inscrição gravada na pedra – que foi descoberta há dois anos, ainda colocada na cabeceira da sepultura.Esta e outra estela descobertas no cemitério islâmico são mesmo consideradas um achado de grande importância e até raridade, como explicou ao Sul Informação a arqueóloga Rosa Varela Gomes: «as duas estelas epigrafadas, que encontrámos no Ribat da Arrifana, são as únicas que se conhecem in situ na Península Ibérica».


Excerto de texto de Elizabete Rodrigues


Jornal Sul Informação

para saber mais visite o link ; http://www.sulinformacao.pt/2014/08/cemiterio-com-900-anos-do-ribat-da-arrifana-investigado-por-arqueologos-com-fotos/










quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A torre albarrã do Castelo de Paderne




O Castelo de Paderne apresenta uma unica torre albarrã como estrutura de ataque e defesa, o termo albarran de origem arabe " (do árabe "al-barran") e significa que está no exterior ou saliente ao castelo, ou num troço de muralha, à qual se liga, por um passadiço.
Este tipo de estrutura militar foi introduzida pelos Almóadas na península Ibérica, com a primitiva função de constituir uma atalaia (se mais distante) e de reforçar a defesa dos muros através do ângulo assim criado para poder atacar os agressores pelas costas . Junto aos portões de entrada, dificultava o trabalho dos engenhos atacantes, como por exemplo, o dos aríetes. A torre do Castelo de Paderne tem uma forma quadrada com cerca de 5,70m de lado por 9,30m de altura conservada, o seu topo era formado por quatro blocos de taipa que se uniam na sua totalidade, hoje em dia apenas restam três desses blocos. O acesso á torre através do interior do castelo era feito através de uma escada encostada á muralha e dai passavam pelo passadiço aéreo (mata cães) que tem de comprimento 2,90m por 2,80 de largura.
Segundo  Ataide Oliveira na sua monografia de Paderne de 1910, no passadiço existia uma abertura que se designa por mata cães (1) com aproximadamente 1m de diâmetro em formato cónico estando actualmente tapada por pedras e argamassa, esta abertura tinha como finalidade atacar o inimigo colocado sob o abrigo do passadiço e que segundo a tradição oral esta abertura teria funcionado também como forca.




Esta torre tem uma abertura em forma de porta que permitia o acesso ao interior composto por um piso em taipa onde se pode encontrar uma cavidade do lado direito que terá servido para guardar bolas de funda e de catapulta assim como mantimentos. O piso de circulação apresenta vestígios de fogo com várias intensidades, No interior da torre pode se também observar vestigios de uma seteira virada no sentido da ponte sobre a ribeira e com visibilidade para a entrada em cotovelo do castelo, assim como uma segunda abertura que poderá ter funcionado como seteira ou para outro qualquer tipo de maquinaria de guerra.
Aquando das intervenções arqueológicas efectuados no castelo pela arqueóloga Dra. Helena Catarino foi levantada a hipótese da torre ter tido duas fases de utilização ou funcionamento, sendo que numa primeira fase a torre apresentasse um segundo piso em madeira com paliçada de protecção dos arqueiros e que no  piso inferior tivesse três seteiras e que serviria também para armazenamento de materiais de guerra, apresentando vestígios de fogo, Na segunda fase apenas o segundo piso teria sido utilizado . Foi igualmente levantada a hipótese de a torre ter servido como torre sineira uma vez que o Castelo de Paderne foi sede de paroquia.

Adaptação de texto da autoria da Dra. Natércia Magalhães
Fotos - José Alberto Ribeiro

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A cerâmica Africana no Gharb Al-Andalus - Período Almoravida e Almoada





A cerâmica Africana no Gharb Al-Andalus - Período Almoravida e Almoada

Sec - XII / XIII

 Durante o período de domínio das dinastias africanas de almorávidas e almóadas
surgem novos elementos que irão dar origem a mudanças na cerâmica do Gharb Al-Andalus, Novas técnicas, morfologias e iconográfias sensivelmente diferentes daquelas que eram conhecidas em contexto Omiada.
Em relação ás técnicas de fabrico assiste se a uma melhor adaptação dos objectos á função que eram destinados. Verifica se um aumento  de pastas brancas, calcárias nos recipientes destinados a transportar ou armazenar agua e por norma eram louças de ir á mesa. Este tipo de cerâmica era á base de pastas, porosas e muito resistentes que seriam mais eficazes na conservação e transporte de agua .
Neste período eram usadas também técnicas de fabrico mais tosco para cerâmicas que iam ao fogo.
No que diz respeito às formas assiste se ao aumento da especialização funcional das cerâmicas, esta tendência vai crescendo progressivamente desde a época Emiral e acentua-se já na ultima fase com as dinastia Africanas Almoravida e Almoada . Algumas destas formas adquirem elementos morfológicos tais como bicos, filtros e apêndices que eram destinados a usos específicos, embora continuassem a existir cerâmicas que conviviam com outras mais especializados.




No que diz respeito á decoração assiste se a uma mudança generalizada na utilização cromática, a policromia utilizada nos períodos Califal e Taifas é então menos utilizada em época Almoada, tornando se mais frequente a utilização de duas cores e a monocromia.
esta mudança dá origem a um aumento da utilização de técnicas ornamentais com recurso ao relevo, estampilhado, a incisão e o molde.
Assiste se também nesta altura a um renascimento da decoração moldada em que as peças são levantas em roda de oleiro, que depois de passarem por moldes eram revestidas de engobe vermelho ou de vidrado com motivos decorativos em reflexo metálico.
No que diz respeito à distribuição geográfica das produções existem ainda muitas duvidas relacionadas com o reduzido número de oficinas conhecidas, até á data a única oficina de produção de época almóada conhecida situa se em Mértola.

A cerâmica Africana no Gharb Al-Andaluz
Susana Martinez

Fotos - José Alberto Ribeiro

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A cerâmica Califal no Gharb Al-Andalus - Período Califal

Durante os primeiros séculos de domínio muçulmano o Al-Ândalus recebe uma grande diversidade de influências vindas dos mais diversos lugares Islamizados até então. Esta diversidade da lugar  ainda que lentamente, a uma produção de cerâmica com características próprias, sensivelmente diferente da Romana.
Em meados do século X, essa produção apresentava já características plenamente definidas e uma
grande variedade técnica e ornamental.
A estabilidade politica e a livre circulação de pessoas, mercadorias e técnicas durante a época do califado de Cordoba  contribuiu largamente para a difusão de técnicas que ate então não eram usadas tais como o vidrado na cerâmica. É na segunda metade do século X que se dá inicio á difusão de técnicas de fabrico e produções associadas a uma iconografia claramente Omiada .
Se por um lado nesta fase a cerâmica de fabrico manual não tenha sido abandonada totalmente, por outro lado as cerâmicas de fabrico a torno e as cozeduras oxidantes dominam ja uma actividade ja bastante desenvolvida.
No Gharb al-Ândalus a “imagem de marca" era a decoração com pintura branca. Era aplicada a
quase todos os tipos de peças, normalmente sobre pastas vermelhas mas também sobre pastas claras ou engobadas a vermelho ou castanho, por vezes quase preto.
As cerâmicas de linhas finas dominavam os temas ornamentais, tratavam se de motivos simples dentados ou reticulados assim como fitomorficos, normalmente em conjuntos de três traços afim de formar composições radiais ou em faixas sucessivas.
A técnica do vidrada na cerâmica não se pode atribuir ao mundo Islâmico uma vez que ja era conhecida no período Romano, embora fosse pouco utilizada devido ao seu preço ser bastante alto, no entanto pode se atribuir ao mundo Islâmico a descoberta de técnicas novas e mais baratas que permitiram a sua vulgarização.
É no século X que se assiste a uma grande difusão do vidrado no Al-Ândalus e se desenvolvem técnicas e decoração em combinações bicromáticas e policromáticas. As combinações bicromáticas mais frequentes apresentam motivos geométricos ou epigráficos em preto ou castanho de óxido de
manganés sob um revestimento cor de mel ou sobre branco.
No que diz respeito à técnica de vidrado policromatico, o denominado “verde e manganés”, as primeiras produções deste tipo na Península Ibérica devem ser associadas ao Califado Omíada.
Os motivos associados a esta técnica são muito variados e contêm uma forte carga simbólica, os mais espectaculares são os antropomórficos e zoomorficos mas os mais abundantes são os fitomorficos com diversas representações de palmetas, flores de loto e “pinhas”. São também abundantes as representações de entrelaçados que que simbolizava o “Cordão da Eternidade” e a epigrafia dominada pelos enunciados baraka (bênção) e al-mulk (o poder).

A cerâmica Califal no Gharb Al-Andalus 
Susana Martinez 

Foto - José Alberto Ribeiro  

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A cerâmica Emiral no Gharb Al-Andalus - Período Emiral



O conhecimento da cerâmica Islâmica dos primeiros séculos é bastante reduzido devido á ausência de informação estratigráfica, no entanto pode se afirmar que a
ruralização progressiva a que se assistiu na Alta Idade Media pode ter conduzido ao colapso das produções romanas, dando então lugar a cerâmicas de produção menos especializadas.
Grande parte dos objectos de cerâmica eram produzidos em oficinas locais com meios bastante rudimentares, dominava então a cerâmica comum de reduzida
diversidade tipológica e decorativa.
Em relação á época Emiral nos últimos anos foram documentadas cerâmicas de fabrico manual que convivem com olaria ao torno de fabrico bastante rudimentar com barros mal decantados em que a cozedura realizava-se frequentemente em ambiente redutor e alternando a oxidação e redução.
Desta época foram registados alguns exemplos de jarros, jarrinhas, tigelas e caçoilas em sítios arqueológicos como o Castelo de Palmela assim como no castelo de Alferce.
A este período correspondem também os candis de bico cumprido nos quais o bico ainda é pouco proeminente e o gargalo que serve de funil encontra-se ainda pouco desenvolvido.
No que diz respeito às técnicas ornamentais, a mais frequente é a pintura branca ou vermelha traçada com linhas finas.
O vidrado na cerâmica constitui, nesta época uma técnica luxuosa e por isso eram raros os exemplares, ainda assim foram documentados jarrinhos com decoração incisa sob o revestimento vítreo de tons melados, esverdeados ou acastanhados  que devem ser considerados materiais importados do sudoeste Peninsular, região onde começaram a ser produzidos a partir do século XI (...)

A cerâmica Emiral no Gharb Al-Andalus
Susana Martinez

terça-feira, 17 de junho de 2014

Casa Alife - Exemplo de uma habitação do período Almoada ( Sec XII / XIII)



No Castelo de Paderne aquando das ultimas escavações, trouxeram á luz do dia um exemplo típico de habitação Almoada.
Esta casa é um espaço central fechado entre si virado para dentro e com poucas aberturas ao exterior, sendo organizada a partir de um pátio central interior com ligação directa a todos os compartimentos que compunham a casa tais como o salão a alcova e cozinha e por vezes a latrina. Este pátio era o coração da casa, servia de ventilação e iluminação aos restantes compartimentos.
O salão da casa era o local privilegiado de convivo, trabalho, repouso e partilha de alimentos.
A cozinha era um espaço independente e tinha uma subdivisão entre espaços para armazenamento e uma área de fogo no chão.
As entradas estavam localizadas nos cantos da fachadas e davam para um corredor lateral disposto em cotovelo.
Este tipo de casa apresentava na parte superior terraços ou açoteias, sendo o tecto feito com canas e argila e cobertos com telha de canudo (meia cana), podendo ser de uma ou duas aguas, esta técnica foi utilizada no Algarve ate pelo menos á primeira metade do século vinte.






A casa Alife situa se no cruzamento da rua principal do castelo e de uma rua secundaria junto á muralha sudoeste, é o exemplo mais representativo de uma habitação Islâmica até á data no castelo de Paderne, dispondo de um patio rectangular pavimentado por lajes que substituíram os ladrilhos originais. Em torno deste pátio central dispõem se oito salas que ainda são de difícil interpretação devido ás sucessivas remodelações ao longo da sua ocupação. A única porta visível situa se na rua secundaria e ja não obedece ao modelo Almoada de corredor em cotovelo visto que tem o seu acesso directo a uma das divisões, fruto de remodelação ja em era Cristã.



quarta-feira, 2 de abril de 2014

Placas apotropaicas no Al-Andaluz



As placas apotropaicas são elementos arquitectónicos, embora pouco comuns no Al Andalus oferecem textos ou iconografia de forma variada. Podem se destacar símbolos recorrentes aos quais eram atribuídos qualidades de afastar o mal, e como tal acreditava se serem detentoras de características que lhes davam as denominações indicadas.
Estas placas eram encontradas sobretudo em infraestruturas de carácter militar, para o caso em questão destacam se os Castelos de Silves no Algarve e o de Gormaz na província espanhola de Castilla y León.





A figura 1 foi encontrada em Silves e é um monólito de arenito vermelho em que se reconhece a decoração em forma de corda tendo no seu interior um motivo fitomorfico com cinco pétalas esculpidas a partir do centro e com um arco ultrapassado que simboliza a passagem entre dois mundos, entre a luz e as trevas do mundo profano.






A figura 2 pertence ao castelo de Gormaz em Espanha, e são três placas sendo a placa central de origem Hispano-Romana e como tal trata se de uma reutilização de materiais após a reformulação da fortaleza por Al - Hakam II na segunda metade do século X.
estas placas ainda hoje se encontram "in situ" e orientadas para poente e foram interpretadas como tendo capacidade de afastarem os génios malignos da noite através dos seus símbolos relacionados com a vida eterna.

Para ler na integra :https://www.academia.edu/1556906/Placas_apotropaicas_do_Castelo_de_Silves

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Seminário reúne especialistas em Faro para debater " Património e Território "



A iniciativa, organizada pela Universidade do Algarve, surge no âmbito de um estudo que a UAlg está a realizar para a Secretaria de Estado da Cultura sobre Património e Território, no âmbito da preparação do Quadro Estratégico Europeu (2014-2020), com o qual se procura avaliar as carências de intervenção no património classificado sob gestão pública, assim como a importância que o património tem no desenvolvimento do território, na estruturação da oferta turística e na criação de emprego.

http://www.sulinformacao.pt/2014/01/seminario-reune-especialistas-em-faro-para-debater-%E2%80%9Cpatrimonio-e-territorio%E2%80%9D/