segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Paderne Medieval

 Este ano voltou a Paderne mais uma vez o evento "Paderne Medieval" pelas ruas da aldeia histórica tiveram lugar desfiles,mercado medieval e actuações musicais. Uma verdadeira viagem pela nossa historia.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Castelo de portas abertas.....

Este ano no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Turismo, comemorado a 28 de Setembro as portas do Castelo estiveram abertas ao publico. O tema das comemorações foi "Turismo & Energia Sustentável" no concelho de Albufeira. Fizeram parte do evento deste ano visitas ao Castelo acompanhadas por tradutor, em português e inglês .

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ermida de Nossa Senhora ou do Castelo




Frei Agostinho de Santa Maria no ano de 1716 descreve assim a Ermida no seu Sanctuario Mariano:

No meio deste castello se vê uma Ermida, dedicada a Nossa Senhora, á qual por causa(sem duvida do sitio em que está edificada) dão a denominação do Castello. É esta Ermida pequena: o corpo é fechado de madeira; mas a capella-mór coberta de abobada. Tem tres altares, e no altar- mór está collocada a sagrada imagem da Senhora, no meio de um nicho formado no retabulo, que é de obra antiga (...). A imagem da Senhora é de escultura de madeira, estofada, e com o Menino de Deus sobre o braço esquerdo. A sua estatura são cinco palmos (...). Antigamente esta Ermida da Senhora do Castello era a parochia de Paderne (...). A Senhora é de muita devoção , e muito visitada principalmente no dia de sua Assumpção, em 15 de Agosto que é o dia de seu Orago (...) "



Documento pelo qual a Ordem de Avis, a 19 de Agosto de 1308, apresenta a D.João, bispo de Silves, Frei João como prior da Igreja de Santa Maria de Paderne, o qual o bispo não confirmou logo por se encontrar em serviço do Rei e necessitar de consultar o seu cabido sobre o que era de direito.




Cabido/Cabildo-sinónimo de cônego ou designar um conjunto de cônegos de uma catedral

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ibn Qasi e os começos de Portugal



Abû al-Kâsim Ahmad Ibn Qasî foi figura impar na
história do Alandalus. Este luso-árabe, de origem muladi,
distinguiu-se em diversos níveis. Como literato, ficou
proverbial, apesar dos poucos versos que até nós chegaram, a
sua reconhecida erudição. Como chefe religioso e sufi, deu
origem ao movimento dos Muridîn, onde se avantajou como
imam e mahdi. Como emir de Taifas chegou a governar,
embora brevemente, uma parcela relativamente considerável
do Gharb al-Andalus. A sua actividade política esteve na
origem de dois factos marcantes no século XII: a vinda e
estabelecimento dos Almôadas na Península Ibérica e a
aliança que fez com D. Afonso Henriques, num momento
em que Portugal caminhava para a afirmação definitiva como
Estado.
Todavia, são misteriosos muitos aspectos da sua vida.
Grande parte do seu percurso permanece envolto em
sombras, sendo certo que se impõe, a nosso ver, e na
sequência de investigações que vimos desenvolvendo há
alguns anos, uma completa reinterpretação do seu percurso e
interferência nos sucessos históricos do século XII.
A fonte mais directa para o conhecimento da época do
grande místico seria, sem dúvida, a História dos Muridinos
ou Revolta dos Muridinos, do seu contemporâneo e, por
assim dizer, conterrâneo Ibn Sâhib al-Salât, história essa a
que este faz frequente referência no seu Al-Mann bi-l-Imâma.
(1) Todavia, trata-se de uma obra que, até hoje, não foi
possível localizar e que se crê perdida.
O juízo das fontes árabes, acolhida em grande parte dos
casos, de forma muito acrítica, pela historiografia posterior, é
extremamente negativo para Ibn Qasi: bastará recordarmos
Ibn al-Abbâr, Ibn al-Khatîb, al-Marrâkushî ou Ibn Khaldûn
aos quais, nos tempos modernos, se seguiram Conde,
Codera, Afîfî, David Lopes ou Addas. (2)
Conde chega ao extremo de inventar pormenores
caricatos sobre o relacionamento entre Afonso Henriques e
Ibn Qasî. Codera limita-se a transcrever, sobretudo, Ibn
al-Khatîb, sem todavia, questionar os seus juízos. David
Lopes tem o mérito de ter traduzido, parcialmente, algumas
fontes mas sem tentar uma abordagem crítica. Afîfî, apesar da
sua erudição na mística islâmica, parece não ter chegado
nunca a conhecer directamente o tratado místico de Ibn Qasî,
O Descalçar das Sandálias (Khal’ al-Na’layn), já que o seu
estudo se limita a fazer uma colagem de passagens desta obra,
citadas por Ibn ‘Arabî no seu Comentário (Sharkh) à mesma.
Além disso, Afîfî demonstra juízos preconceituosos contra o
shaykh de Silves, retirados apenas de algumas apreciações
negativas de Ibn ‘Arabî constantes do Sharkh, mas ignorando
completamente as numerosas que são favoráveis contidas
nas Iluminações Mequenses (Futûhât al-Makkiyya).
Não admira, por isso, que as conclusões a que chega
sejam estereotipadas e discutíveis. Claude Addas parece
navegar nas mesmas águas: louva-se no Sharkh, para concluir
que o juízo de Ibn Arabî sobre Ibn Qasî seria radicalmente
negativo, esquecendo não só as ditas passagens das Futûhât
como também as dos Engastes da Sabedoria (Fusûs al-Hikam)
onde o Shaykh al-Akbar credita ao mestre dos Muridinos a
paternidade de conceitos que ele próprio perfilha. É, por
exemplo, o caso da importantíssima perspectiva sobre a
equivalência dos Nomes Divinos. (3)
Ao que parece, todas as fontes árabes foram beber a Ibn
Sâhib al-Salât que, como cronista de serviço do poder
Almôada, denegriu quanto pôde Ibn Qasî e o seu movimento
dos Muridinos. Tal tem a sua razão de ser: é que o assassínio
do Shaykh, a mando dos almôadas, não conseguiu liquidar,
desde logo, os Muridinos, que ainda resistiram, durante
alguns anos, em diversas fortificações do Gharb,
nomeadamente em Tavira. (4)
O próprio facto de o tratado místico de Ibn Qasî ter sido
dado a conhecer por Ibn ‘Arabî, em Tunis, através do filho
daquele, que aí se refugiara, inculca a ideia de que partidários
dos Muridinos se terão espalhado por outras paragens,
continuando a difusão das suas ideias sufis (5). De todo o
modo, é incontestável que a popularidade dos Muridinos e o
prestígio de Ibn Qasî foram um entrave muito mais forte e
duradouro do que habitualmente se pensa à consolidação do
poder almôada no Alandalus. Tal postulou a existência, por
parte do regime magrebino, de escritos de contrapropaganda,
quer política, quer religiosa, visando contrariar as ideias
ismaelo-fatimidas, tidas como heréticas e socialmente
subversivas. A obra de Ibn Sâhib al-Salât é, pois, de pura
apologética almôada destinada a desacreditar a vaga
muridínica aos olhos das populações do Gharb que tão
profundamente haviam aderido às suas propostas quiliásticas
e messiânicas.
É, por outro lado, sabido que o sufismo de Ibn Qasî, em
parte tributário das ideias dos Ikhwân al-Safâ, apresentava
uma coloração cripto-ismaelita que havia influenciado os
ideais templários, com o seu messianismo da Jerusalém Celeste.
Se pensarmos nas ligações entre Templários, S. Bernardo e a
casa de Borgonha, a instalação do Conde D. Henrique, à testa
do Condado Portucalense, bem poderá ter obedecido a uma
intenção muito concreta. Daí a protecção e concessões que
os Templários sucessivamente receberam de D. Henrique, D.
Teresa e D. Afonso Henriques. (6)
O ideal sinárquico dos Templários casava-se bem com
uma aliança entre o D. Afonso Henriques templário e o Ibn
Qasî, sufi e chefe dos Muridinos. A esta luz, a aliança entre os
dois soberanos ganha uma simbólica e um alcance que, até
aqui, parecem ter passado completamente despercebidos.
Ibn Qasî é considerado, por um lado traidor, pelos
ortodoxos sunitas, e a aliança é vista, por outro lado, como
espúria, pelos cronistas cristãos, que pura e simplesmente a
omitem. Além disso, Afonso Henriques, como para que
branqueamento de tal “mácula”, é glorificado como
mata-mouros e quase santificado no episódio lendário da
batalha de Ourique. Ora, o primeiro rei de Portugal, se bem
que grande conquistador de terras muçulmanas, foi
simultaneamente um esforçado protector dos direitos das
minorias mouras, consagrados em forais que espelham uma
mimetização da Dhimma islâmica. É sabido o seu papel,
aquando da conquista de Lisboa, para travar os cruzados do
norte que todos queriam passar a fio de espada... Refira-se,
ainda, que de mulher moura teve D. Afonso Henriques o seu
filho bastardo, o infante Martim Afonso Chichorro.
O alcance da aliança entre Ibn Qasî e Afonso Henriques
deve, assim, entender-se como algo de verdadeiramente
significante, e não mero pacto de oportunismo. É isso que
resulta do estudo aprofundado das ideias sufis daquele e dos
ideais templários deste.
Por isso, as três teses de doutoramento sobre Ibn Qasî, de
Goodrich, Dreher e Elliot, embora apresentando importantes
contributos, são viradas, sobretudo, à exterioridade política
da actuação do chefe dos Muridinos. Têm, todavia, todas
elas, os seus diferentes méritos. Goodrich estabeleceu o texto
árabe, embora baseado apenas num dos manuscritos. Dreher
apresentou uma tradução parcial, baseada no outro
manuscrito, mas circunscrita ao escopo da sua tese. Elliot
procura dar uma visão de conjunto através de pequenos
excertos de cada um dos capítulos mas deixando quase de
lado o texto qassiano.
Falta cumprir uma das etapas fundamentais: inserir a
mensagem global do seu Livro no conjunto da tradição sufi e
da gnose ismaelita e, muito em particular, relacioná-la não só
com os Mestres da impropriamente chamada Escola de
Almeria mas também com a dos seus discípulos, directos e
indirectos, entre os quais se inclui, evidentemente, Ibn ‘Arabî,
através das obras já citadas.
Parece ser este o caminho mais seguro e estimulante para
uma compreensão do pensamento muridínico e para uma
interpretação da carreira, intensa, e aparentemente
desconcertante de Ibn Qasî. (7)



Moeda em prata, Quirate, de Ibn Qasi, cunhado em Silves
(www.ipsiis.net)





(1) Publicado com estudo preliminar, tradução e índices por Huici Miranda, A.,
Valência, 1969.
(2) Conde, José António: História de la dominación de los árabes em España,
Madrid, 1874; Codera, Francisco: Decadencia y desaparición de los Almoravides en
España, Zaragoza, 1899; Afîfî, A.: “Abû-I-Qasîm b.Qasî wa Kitabuhu Khal al--
Na’layn” in Majallat Kullîyat al-âdâb XI, 1957, 53 - 87, edição da Jâmi’at al--
iskandirîya; Lopes, David: Os árabes nas obras de Alexandre Herculano, Lisboa,
1911; Addas, Claude: Ibn Arabî ou la Quête du Soufre Rouge, Paris, 1989, e
“Andalusi Mysticism and the rise of Ibn Arabî” in The legacy of Muslim Spain,
Leiden, 1992.
(3) “Na verdade cada Nome Divino é qualificado por todos os Nomes
Divinos”; traduzido como Sabedoria dos Profetas, por Titus Burckhardt, Paris, 1955.
(4) Al-Mann..., ed. cit., 134/135.

(5) Halima Ferhat p. ex., defende em Le Maghreb au XII et XIII siécles: les siécles de
la foi, Casablanca, 1993, que Tahir Sadafî, autor místico dos finais do século XII teria
sido difusor ou continuador das ideias muridínicas. Embora não tenhamos lido o
manuscrito inédito da Biblioteca de Berlim, já temos a sua tradução alemã, e
julgamos forçada uma assimilação dos discípulos de Ibn al-’Arîf aos muridinos.
(6) De facto, D. Afonso Henriques, no documento em que confirma a concessão
aos Templários do Castelo de Soure, afirma expressamente “...em vossa
Irmandade e em todas vossas boas obras sou irmão...”, cf. Frei Bernardo da Costa, História da
Militar Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, Coimbra, 1771, 158-9.
(7) Comunicação apresentada no Simpósio Internacional O al-Andalus e a
Formação do Reino de Portugal, realizado de 16 a 17 de Fevereiro de 1996 na Reitoria da
Universidade de Lisboa e a incluir nas Actas respectivas e também inserido na minha
obra “Nítido Crescente”, Lisboa, Ed. Hugin, 1997.

Ficha Técnica
Título: Portugal - Ecos de um Passado Árabe
Autor: Adalberto Alves
Tradutor: Badr Younis Youssef Hassanein
Concepção Gráfica da Colecção: Mário Caeiro
Na Capa: Gebbs tradicional islâmico, técnica de excisão
Criação: Arq. José Alegria
Execução: Atelier Darquiterra
Edição: Instituto Camões
Impressão e Acabamento: IAG-Artes Gráficas
Depósito Legal: n.° 144840/99
ISBN: n.° 972-566-202-4