segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Urbanismo islâmico no Castelo de Paderne





Fig 1- Zona interior do Castelo





Decorridas três campanhas de escavações no Castelo de Paderne, foram apresentados alguns resultados referentes ao período islâmico. Esta fortificação de taipa, do extremo sul do Gharb al-Andalus, foi edificada pelos almóadas, mas teve ocupação até ao século XVII. No plano urbanístico, os séculos XII/XIII estão representados por uma cisterna, silos, canalizações,ruas e casas.
A casa mais completa tem 92,66m2, e está localizada no eixo de ruas e organiza-se em oito salas, em torno de um pátio central. Podemos dizer que os compartimentos mais pequenos correspondem a quartos, ou alcovas, depreende se que serviriam para reserva de alimentos, um destes compartimentos tinha um silo.
O espólio que foi apresentado corresponde a uma pequena parte do conjunto, mas é bem ilustrativo da época almóada. A maior parte corresponde a cerâmica comum (vidrada e não vidrada), de uso doméstico, assim como um único vaso policromo, em corda seca. Quanto aos artefactos de metal são de particular relevância as armas, em particular um punhal. Para além destes, apresenta-se também uma chave e um instrumento de osso.



Fig 2- Ceramica Almoada do espolio do Castelo


Apresentação

O castelo de Paderne situa-se na freguesia do mesmo nome, que dista aproximadamente 2,5km para norte, e no Concelho de Albufeira . Está implantado num cabeço, que forma uma península, ladeado pela ribeira de Quarteira,sobre a qual existe uma ponte, cuja origem deve relacionar-se com a do castelo.
Esta forticação islâmica, edificada no período almóada, enquadrava-se num conjunto de castelos que eram o centro de territórios rurais, de pequenas comarcas administrativas.
No exterior das ruínas hoje visíveis, desenvolveu se uma povoação de cariz rural e que corresponderia a uma pequena aldeia (alcaria) que descia em plataforma,sobretudo no lado sul, em direcção à ribeira,e cujos vestígios arqueológicos se encontram escondidos sob o solo actual, resultado dos muitos séculos de abandono.
Totalmente edificado de taipa, este ainda hoje imponente monumento arqueológico do Algarve foi classificado como Imóvel de Interesse Público, por Decreto Lei Nº 516/71 de 22 de Novembro,e é actualmente propriedade do IGESPAR. Este projecto de estudo, restauro e valorização, foi realizado sob a tutela da Direcção Regional de Faro do mesmo Instituto, a direcção científica da parte do projecto respeitante ao estudo arqueológico, esteve a cargo da Dra. Helena Catarino do Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra .


Fig 3- Entrada do Castelo com porta em cotovelo





O castelo


Quando nos aproximamos desta fortificação almóada deparamos com a monumentalidade da sua construção, abrangendo uma área de cerca de 3250m2. As muralhas, com espessuras entre 1,90m e 2,10m, assentam directamente na rocha e apresentam base de alvenaria de pedra em alguns tramos, sendo outros logo directamente construídos de taipa.
No exterior nordeste, do lado mais plano do cabeço,sobressai, praticamente intacta, uma torre albarrã,de planta quadrangular, com 5,84m por 5,70m de lado e 9,30m de altura, ligada à muralha por um passadiço superior, que deixa uma passagem inferior, com 2,15 de largura, que dá acesso à porta, em cotovelo, situada no ângulo voltado a nascente.
A falta de outras torres, adossadas às muralhas,pode ser explicada pela própria implantação no terreno,já que este se apresenta em forma de esporão, com declives acentuados, sobretudo nos lados sudeste e noroeste, sendo que o lado sudoeste assenta sobre blocos de afloramento da rocha. O facto de os lados sudeste e sudoeste apresentarem muralhas quebradas, com esquinas reentrantes, que serviam de ângulos de tiro, substitui a necessidade de construção de torres salientes.




Fig4-Arruamentos


Fig5- Cloaca com escoamento para o exterior da muralha



Arruamentos e canalizações



Com as escavações vieram a descoberto os vestígios arqueológicos da ocupação original. O castelo de Paderne revela uma minuciosa planificação de raiz, assim sendo houve a preocupação de fazer coincidir as canalizações principais, dispostas ao longo de ruelas que iriam terminar nas muralhas onde estão localizadas as cloacas de escoamento.
De momento, depreende-se que as quatro ruas já identificadas nas escavações são transversais a um eixo central, que acompanha a crista rochosa e ligaria
a zona da porta até ao sector sudoeste do castelo.
As ruas secundárias, limitadas por casas, são relativamente estreitas (cerca de 1,20m de largura), com pisos de circulação pouco regulares, umas vezes em terra batida, sobre a própria rocha, ou as lajes de cobertura das canalizações (fig. 3. 5). Estas dispõem-se ao longo do eixo da via e são feitas em rebaixamentos na rocha, ou estruturadas com pedras e têm, em média, 0,30m de largura por 0,25/0,30m de profundidade.
Outras canalizações, de características idênticas às anteriores, mas consideradas secundárias, partem do interior de habitações e terminam nas principais, fazendo parte de uma rede organizada de escoamento de águas pluviais e certamente de esgotos,
embora até ao momento não se tenha assinalado nenhuma latrina.
Identificaram-se, porém, duas estruturas negativas, de abertura circular,aparentemente com forma de silos, que poderão ser interpretadas, pela sua localização, como fossas sépticas. Uma, não escavada, está sob uma parede de construções mais tardias, mas entre o exterior de um edifício islâmico e a canalização da rua; a outra situa-se no mesmo eixo de circulação e a sua escavação revelou tratar-se de uma pequena fossa, com canal de comunicação para a canalização
principal.



Fig6- Cisterna junto do templo Cristão


Cisterna e silos

Os reservatórios de água e de cereais são elementos indispensáveis neste tipo de fortificações.
Quanto aos primeiros, o Castelo de Paderne revelou duas cisternas, de épocas e características distintas, hoje parcialmente entulhadas.
A primeira, de época islâmica, localiza-se perto da porta do castelo, na zona onde mais tarde se edificou o templo cristão . É totalmente escavada na rocha, tem 6,25m por 2,70m, de medidas internas e a cobertura é de abóbada. No exterior apresenta um pátio rectangular, sendo o lado mais estreito o que está na zona do bocal de acesso à água. As reservas de cereais estão representadas em quatro silos, de que se escavaram três: dois deles estão nitidamente no interior de estruturas habitacionais islâmicas e os outros estão, aparentemente, numa área de anexos. Pelos materiais arqueológicos identificados no interior, pode se afirmar que estes silos não foram entulhados ao mesmo tempo.




Fig7- Zona intervencionada com vista sobre a ribeira de Algibre




As construções islâmicas

Das áreas intervencionadas resultou a identificação de um conjunto de habitações, Apesar da extensão razoável de intervenção arqueológica, não foi possível analisar todas as edificações islâmicas e suas transformações, no momento subsequente à reconquista, nem definir as plantas das construções da Baixa Idade Média. Se, na zona junto da capela, apenas foram identificados alinhamentos de paredes islâmicas sob algumas das sepulturas do cemitério cristão, também nas duas principais sondagens cresceram depois casas de época moderna.


Fig8- Ossadas do cemitério Cristão junto da capela


O blog do Castelo de Paderne agradece á Dra. Helena Catarino pela sua disponibilidade em fornecer o material necessário a este post


Fig7 Foi gentilmente cedida pela Dra. Leonor Rocha a quem desde já agradeço